
Novas gerações impulsionam a filantropia empresarial
Publicado em 02/10/2025
Lideranças mais atentas à sustentabilidade e à equidade social impactarão positivamente o investimento social privado
A 4ª edição da Pesquisa Doação Brasil, realizada pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) em parceria com a Ipsos, revela que o volume total de doações feitas por indivíduos no país alcançou R$24,3 bilhões no último ano, o maior valor da série histórica. O levantamento também aponta caminhos para consolidar uma cultura de doação estruturada e sustentável no Brasil, que envolve a atuação das empresas junto ao terceiro setor e a transformação no perfil das companhias doadoras.
Um dos dados mais relevantes é o crescimento da confiança nas organizações da sociedade civil, com 81% dos doadores afirmando que acreditam nas entidades apoiadas. Ao mesmo tempo, os brasileiros estão cada vez mais criteriosos, considerando que 86% escolhem cuidadosamente a causa que apoiam e 83% buscam informações antes de doar. Uma diferença de oito pontos percentuais acima do resultado de 2022. Essa atenção reforça o papel da transparência e da governança como pilares essenciais para que instituições recebam apoio contínuo.
“O resultado da pesquisa demonstra que a cultura da doação no Brasil vem amadurecendo, com a sociedade cada vez mais consciente do impacto que seus recursos podem gerar. Esse avanço cria um ambiente fértil para que empresas também se engajem de maneira mais estruturada”, destaca Marcella Souza, advogada especialista em Assuntos Culturais e Terceiro Setor da Andersen Ballão Advocacia.
Por outro lado, a proporção de brasileiros que doaram em 2024 caiu de 84% em 2022 para 78%. A redução está principalmente ligada às doações de bens, que passaram de 75% para 67%. Ainda assim, a pesquisa aponta que quase oito em cada dez brasileiros doaram dinheiro, bens ou tempo voluntário ao longo do ano em um sinal claro de que a solidariedade segue sendo um traço presente na sociedade.
Desafios e perspectivas para a cultura da doação
Além de demonstrar números muito importantes para pensar e planejar um horizonte solidário, a pesquisa estabelece debates sobre como estimular e incentivar a cultura da doação no país. Marcella afirma que as empresas estão cada vez mais cientes do seu papel social, o que fortalece a cidadania e cria benefícios tanto para as marcas quanto para as pessoas impactadas.
“O ato de doar tem o potencial de mudar vidas e desenvolve uma ideia de coletividade que visa o bem comum. Dessa forma, as empresas atuam mais próximas às comunidades e melhoram o seu entorno”, ressalta.
Outro ponto em debate é a transferência intergeracional de riqueza. Até 2030, estima-se que 68 trilhões de dólares passarão da geração baby boomer para millennials e geração Z. O momento será uma oportunidade para que novos perfis de doadores, mais atentos à sustentabilidade e à equidade social, ampliem o impacto do investimento social privado.
Nos próximos 20 anos, espera-se a maior transferência de riqueza da história, com cerca de 80 trilhões de dólares mudando de mãos segundo Relatório Global de Riqueza 2024 (Global Wealth Report), realizado pelo banco suíço UBS. Ou seja, haverá um redesenho do mapa do poder econômico e social com novas lideranças alcançando posições de responsabilidade e aproveitando oportunidades para a redistribuição de riquezas. A filantropia, nessa direção, será impactada, assumindo um caráter sistêmico.
“As novas gerações demonstram ter uma visão mais preocupada em como vão realizar doações e são essencialmente ligadas à tecnologia. Isso tende a criar uma filantropia menos burocratizada e que propõe novas soluções”, avalia a advogada.
Como as empresas podem fortalecer a cultura de doação
O ambiente empresarial, que tem papel estratégico nesse processo, pode adotar medidas para ampliar sua atuação social:
- Integrar a cultura de doação à estratégia corporativa: incluir metas de investimento social nos planos de ESG e de responsabilidade corporativa.
- Fomentar o engajamento interno: criar programas de voluntariado corporativo, matching donations (quando a empresa dobra ou multiplica o valor que o colaborador destina) e campanhas internas de arrecadação.
- Fortalecer parcerias com o terceiro setor: apoiar organizações da sociedade civil (OSCs) e movimentos sociais com aportes financeiros, bens e consultoria técnica, sempre priorizando instituições com governança sólida e transparência.
- Colaborar com o setor público: construir coalizões entre empresas, governo e organizações sociais para enfrentar problemas estruturais, potencializando o impacto das políticas públicas.
- Investimento social privado como motor em parcerias estratégicas: ao ser direcionado para iniciativas de longo prazo, o investimento social privado fortalece a colaboração entre empresas, OSCs e governo, possibilitando a criação de programas com metas claras e indicadores de impacto.
- Educar e inspirar lideranças: disseminar informações sobre boas práticas, resultados alcançados e casos de sucesso para estimular uma cultura organizacional mais solidária.
Empresas que se posicionam como agentes de transformação social ampliam seu papel estratégico. E esse movimento pode ocorrer por meio de doações e por parcerias na construção de soluções coletivas. O investimento social privado tem potencial de promover mudanças profundas na redução das desigualdades ao lado do terceiro setor e do governo.
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